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terça-feira, 31 de dezembro de 2019


1969

Gilberto Gil me fez chorar
Mandando abraços e lembrando-me do ano
Foi uma estrada espinhosa
Dias de prenuncio de despertar
Assumidamente cruel
Escancaradamente escarnecedor
A sua estadia foi demorada e sa(n)grada
Tive que adaptar minhas armas
Não podia “ir de garfo”
O destino, fazendo das suas
Subvertendo o tempo
Admirando as possibilidades
Jogando os dados...

As tardes levaram consigo a primavera
Inverno de torrentes e tormentas
Cálida noite de ondas desesperadoras
Bom marinheiro não se assombra
Busca nas sombras a luz no mar revolto a morada
Criaturas das savanas e selvas, cultivem o desejo!
Elaborem o gozo e deixem que escorra...
O mundo se abre em todos os poros nesta manhã;
Sou mensageiro das infinidades.

sábado, 12 de outubro de 2019

Aquilo que sua aura acusa

5:13
Estou alto
Muito
Doravante
Alunte
Adelante
Transeunte
Translúcido
Interestelar
Macrobiótico
Um passo a mais que o precipício
A alcunha dos deuses
O filho do lobo
A maquina de cortar dentes

Sossego
Sádico
Satírico
Gosmento
Inaugural
Final
E gêneses
O amanha de outrora
A cadeira de sua madrinha
O samba do meu pai
A poesia dos punhos de quem bateu e correu

Fuga
Sono
Abandono
Filhadaputagem

Final apoteótico
Melhor aí
Do que ontem
Melhor hoje que agora
Linha tênue
Bravura caatingueira
Suavidade de mulher
Força de mãe
Meu amanhã é hoje
Minha convulsão
Marota
Desde sempre
Caído aos pés da mesma cruz   

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Epístola de um desgraçado

Estou num desespero mudo
Gritando oco nas paredes de uma caverna
Salivando por um prato de bondade e lucidez
Acarinhado nos espinhos silvestres

Nunca me encontrei como agora
Num calabouço denso
Uma mata atroz e fechada
Maloca de bocas de lobo

Avisto ao longe uma clareira
Mas não sei se quero atravessar
Minhas mãos fadigam o vento
Minha cabeça fluiu e não flui mais

Catástrofe lunar são essas tardes nuas
Cretinice dos bufões plutocratas
Ascensão de império moco

Quero fugir daquela pedreira
Estrada maldita que me aflige
Beirada de mundo desgraçado

Suplico por um momento de luz
Rogo-lhe óh desesperança!
Mil cairam
Dez Mil rastejarão